domingo, 30 de dezembro de 2012

bed of roses




Lentamente, começo a sentir o coração a bater outra vez. Ainda frágil, talvez limitado pelas constantes cicatrizes que tendem a latejar no meu peito e me relembram de tudo o que se passou nesta viagem ilusória e sem sentido a que chamamos vida. Tal como uma flor que, na época primaveril emerge de um inverno cinzento, frio e chuvoso, rodeado de tristeza e de ansiedade pelos tempos quentes, alegres e coloridos do verão, sinto-me a  desabrochar de novo por entre palpitações e desejos. Sinto o sangue a fluir até à ponta de cada membro deste corpo que arrastei sem rumo durante dias, semanas e meses, pondo um termo a um formigueiro que me atrofiava os músculos e me impunha barreiras constantes e desafios inatingíveis que me impediam de seguir em frente. A vida não é uma reta. Por vezes, somos confrontados por desvios incertos. Desvios que não são mais do que isso, desvios. Caminhos estranhos que, apesar de pensarmos que nos levarão ao destino, apenas nos fazem dar voltas e voltas, fazendo-nos cair no chão, tontos e perdidos. Sinto que fui um privilegiado. Depois de acordar num sitio sinistro, onde a escuridão era assustadora e o silêncio ensurdecedor convidava a permanecer parado sem dar um único passo, com medo que este fosse apenas mais um passo em falso, fechei os olhos e segui em frente confiante que, mais à frente, iria encontrar o que sempre procurei. E aconteceu. Agora, estou rodeado por um manto de pastagens verdes e flores coloridas, com o sol a raiar e o vento a assobiar-me palavras de conforto. Enquanto passeava neste mundo novo, uma realidade com a qual apenas sonhava, colhi uma rosa. Mas não é uma rosa qualquer. A maior parte das rosas que eu vejo têm espigões, espetos pontiagudos que, quando menos esperamos, nos magoam e nos fazem sofrer. Mas esta não, esta rosa é especial. É pura, é sensível, é diferente. Irei guardá-la na minha melhor jarra, e farei de tudo para não a ver murchar. Ela é encarnada e as suas pétalas cheiram a amor. 

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