Lentamente, começo a sentir o
coração a bater outra vez. Ainda frágil, talvez limitado pelas constantes
cicatrizes que tendem a latejar no meu peito e me relembram de tudo o que se
passou nesta viagem ilusória e sem sentido a que chamamos vida. Tal como uma
flor que, na época primaveril emerge de um inverno cinzento, frio e chuvoso,
rodeado de tristeza e de ansiedade pelos tempos quentes, alegres e coloridos do
verão, sinto-me a desabrochar
de novo por entre palpitações e desejos. Sinto o sangue a fluir até à ponta de
cada membro deste corpo que arrastei sem rumo durante dias, semanas e meses,
pondo um termo a um formigueiro que me atrofiava os músculos e me impunha
barreiras constantes e desafios inatingíveis que me impediam de seguir em
frente. A vida não é uma reta. Por vezes, somos confrontados por desvios
incertos. Desvios que não são mais do que isso, desvios. Caminhos estranhos que,
apesar de pensarmos que nos levarão ao destino, apenas nos fazem dar voltas e
voltas, fazendo-nos cair no chão, tontos e perdidos. Sinto que fui um privilegiado.
Depois de acordar num sitio sinistro, onde a escuridão era assustadora e o
silêncio ensurdecedor convidava a permanecer parado sem dar um único passo, com
medo que este fosse apenas mais um passo em falso, fechei os olhos e segui em
frente confiante que, mais à frente, iria encontrar o que sempre procurei. E
aconteceu. Agora, estou rodeado por um manto de pastagens verdes e flores coloridas,
com o sol a raiar e o vento a assobiar-me palavras de conforto. Enquanto
passeava neste mundo novo, uma realidade com a qual apenas sonhava, colhi uma rosa.
Mas não é uma rosa qualquer. A maior parte das rosas que eu vejo têm espigões,
espetos pontiagudos que, quando menos esperamos, nos magoam e nos fazem sofrer.
Mas esta não, esta rosa é especial. É pura, é sensível, é diferente. Irei
guardá-la na minha melhor jarra, e farei de tudo para não a ver murchar. Ela é
encarnada e as suas pétalas cheiram a amor.
sou fã dos teus textos <3
ResponderEliminar/pats